domingo, 2 de janeiro de 2011

Presente egípcio

     Uma mente precoce, a loira que está longe da ignorância. Uma ressalva ao pigmento dos seus fios, que ora oscilam à um ruivo/rosa de suas artes inovadoras e intrigantes, de fato. Uma alva pele, límpida, capaz de transparecer sua própria alma, tão delicada e reluzente quanto sua melanina. Um róseo formidável reveste sua desenhada e macia boca – sim, conheço sua maciez, ao provar do seu doce sabor ao pressioná-la em meus lábios. Tão delicados os lábios pertencentes à ela quanto um algodão recém removido da colheita, quanto um ser vivo que acaba de nascer, quanto seu próprio jeito de corar ao sentir-se envergonhada – jeito tal que, ao vê-lo, me apaixono mais e mais. E é mais que inevitável deixar de lembrar, e de tentar descrever o complexo e embaraçoso olhar que carrega essa alma inocente. Oblíquo e dissimulado, insisto em imitar Bentinho na descrição dos olhares de Capitu. Já os olhos desta Capitu não carregam tantos mistérios, pelo contrário, são determinados (até demais, às vezes). São olhos que dizem, que sentem, que ouvem, que estapeiam também. São tão vivos que parecem outro organismo, dentro desse conjunto de perfeições. Tão bem feitos, e um tanto ardentes que consigo enxergá-los nesse instante, nessa breve descrição. Atriz que é, ou brinca ser, consegue muito bem ocultar sentimentos, acostumada a não compartilhá-los e reservá-los junto com seus receios numa torre de mármore. Porém, essa tarefa torna-se cada vez mais difícil para si mesma, cada dia que passa consigo decifrar seus códigos, seus segredos, suas aspirações, e com eles vou me perdendo por entre as escadas da torre, e vou admirando mais a menina, minha menina que encontrou no jardim de sua casa a fórmula do amadurecimento, e que até então guarda-a consigo. E quanto a mim, resta apenas aparar a baba que escorre do meu rosto nos meus momentos de orgulho por ter encontrado um alguém tão especial quanto ela é. A sabedoria e a ingenuidade dialogam em seu interior, e por incrível que pareça estão sempre de mãos dadas. Francamente, nunca pensei em encontrar um dia uma pessoa dessa natureza, e agora tenho esse ser idealizado para chamar de amor.  Minha dádiva de Isis, quis a vida me presentear de forma tão boa? Venero pois essa obra egípcia, a qual meu coração fisgou e agora está difícil viver sem. Reconheço que já comentei de sua sapiência, mas não me canso de ressalvar o quanto admiro sua forma de pensar e de ser. Só espero que esse árduo e fádigo (de tanto carregar um forte sentimento) amor seja reconhecido por aquela da qual escrevo, e carregar a certeza de que mesmo que não seja eterno, se eternize enquanto dure.

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