terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Nostálgica inquietação

     Calma, mansa, indiferente, você deve está aí do outro lado. Aqui não está bem assim. Escorrem sangue das feridas não cicatrizadas, ouve-se gritos, altos, atormentadores, calados, tapados por uma quente e sufocante mão. Há raiva subindo pelo corpo inteiro, há enchurradas de interrogatórios, condenando a ré que não comparece ao julgamento. A ré está do outro lado. A minha caligrafia já não está tão agradável, está tudo tão atordoante que o lápis não escreve, só fere, com palavras de sua autoria. Mas bastou você chegar, bastou você sorrir e eu sentir seu perfume. Bastou você me abraçar e me dizer poucas palavras, que podem ser para você insigne, da boca pra fora. Bastou essas palavras se transformarem em declarações ardentes deste lado, que não enchergo mais feridas, que eu vejo um vasto campo, límpido, aconchegante, ao qual me deito e eternizo o momento. A ré está livre da condenação.

3 comentários:

  1. Ficou otimo. Mas acho qu ejá li isso em algum livro.

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  2. Complicado, Sheylinha, pois foi criação minha mesmo, shaushauhsuahau' / Porque não, Isa?

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