Rever. Abracei pra (re)sentir seu
cheiro, apertar sua mão por frio. Outros tempos, imergidos em novos anseios,
novas ideologias, novos você e eu. Rever-te. Mas sem mais dar as mãos. Examinar
suas diferenças por fora, tatear o coração por dentro. Suas linhas, o desenhado
rosto macio, menina-anjo que já delineia feições de mulher adulta. Retirou dos
dentes o aparelho, mas manteve o cândido sorriso. A fresca voz. Eu, menos vaidoso, já não me importo em sair
de sandálias, deixar a barba crescer. Mas diante de ti, eu era ontem. Eu era há
um ano. Era menino do colegial, era contigo. Adimensional, perdi-me no seu
labirinto. É passado vivo, futuro não-vivido, um relicário de expectativas e
frustrações. Condicionado a lembrar do seu sabor, eu senti dor. Senti dó de
mim. Mas ainda pude compreender as suas razões. Não mudamos tanto, talvez. Pensei
em procurar as cinzas do amor cremado, mas temi me deparar com rubras asas de
um pássaro ruflando sobre o céu azul. Só então vi: Ainda amo. Todavia sem exigência,
sem ciúme, sem compromisso. Se antes amei com beijos, hoje amo com cativos. Amo
por companheirismo. Amor-apaixonado, sem perceber - porém evidente-, é hoje
amor-amigo. Te rever foi, além de sinestésico, epifânico.
Texto anacronicamente apaixonante. Adorei!
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