sábado, 16 de julho de 2011

Desfecho

    Abracei com força na espera de um sinal, ansioso por um gesto que respondesse a ao menos metade das minhas interrogações. Apesar de receoso em parecer deveras entregue, ainda fui capaz de apertar com mais intensidade; e a procura por uma resposta tomou um rumo desesperador, ardia o meu peito hibrido pela esperança que ainda restava e pela dor da sua ausente reação a minha manifestação amorosa. Afastei minha face para deixá-la paralela a lucidez do seu rosto, mirei os seus olhos, apertei os meus como detetive em dedução final, juiz que procura evidências do crime ou mesmo prestes a inocentar sua ré. Nem provas, nem papéis, nem testemunhas que me levasse a qualquer conclusão. Seus olhares nada transmitiam, somente provocavam ainda mais a minha inquietação, as pupilas vazias que a mim encaravam apenas multiplicavam minhas dúvidas; e enquanto para ela eu era incêndio, nem fagulha ela parecia ser para mim, em tais condições. Continuei a arriscar, atritei suavemente meu rosto em sua epiderme, até que ela fosse capaz de fechar os olhos e deixar a boca flácida. Confuso com sua primeira reação, satisfeito com sua atitude e sentindo a gostosa sincronia de nossas ofegantes respirações, pressionei  meus lábios em sua boca, e fui, agora sem o receio de não ser correspondido. Antes não tivesse me atrevido a tanto; se eram dúvidas que eu colecionava em meu interior, seus esclarecimentos vieram a tona. Enquanto me dedicava em apresentar por ósculos a dimensão de meus sentimentos, recebi apenas educadas correspondências gestuais, sua língua tocava a minha de forma meramente mecânica e suas mãos gélidas seguraram meu braço como em repulsa. Compreendi o seu recado e me afastei, lenta e dolorosamente pela reciprocidade fracassada. Fechei os olhos e respirei fundo. Não me encorajei a encarar novamente seus olhares, sabia que dessa vez eles iriam me dizer o que concluí há segundos atrás, imaginei a provável leitura que faria da sua retina e isso me bastou. Dei as costas e fui andando a passos lentos, numa teimosa súplica do meu corpo em regressar, no silencioso pedido do meu coração de a ouvir me chamando de volta, mas ela não o fez. Misturei-me com a multidão no vaivém da rua e desisti de aguardar sua manifestação, guardando em meu íntimo a ultima lembrança de sua presença, eternizando nosso último contato nos vagões da minha memória.

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